Palestra no TRT/CE aborda a psicanálise, o direito e suas convergências
- Página atualizada em 17/03/2020
“Há uma clara e rica articulação entre o Direito e a Psicanálise, no sentido de que ambos têm uma mesma vocação: o trato de questões e conflitos humanos, mesmo aqueles impossíveis de serem resolvidos numa perspectiva de re-significação destes conflitos para a continuação da sociedade, campo do Direito, em âmbito universal, e dos próprios sujeitos envolvidos, campo da Psicanálise, no âmbito da singularidade de cada subjetividade”.
Com essa afirmação e a partir de duas tragédias da Grécia Antiga, onde pode-se localizar a origem da Justiça na tradição ocidental, “Oréstia” de Ésquilo, e o debate sobre a diferença da lei dos costumes e a lei da Cidade, “Antígona” de Sófocles, o psicanalista e professor Jean-Michel Vivès, da Universidade de Nice Sophia Antipolis, na França, ministrou palestra no Auditório do Tribunal Regional do Trabalho do Ceará -7ª Região, a convite da ERMAT/CE - Escola Regional da Magistratura do Trabalho do Ceará.
O palestrante disse que a função do Juiz, assim como de toda a manutenção do Judiciário e seus servidores, é a de possibilitar uma interpretação interditora e separadora que repare os danos causados pelos inevitáveis conflitos humanos, permitindo uma reintrodução simbólica desses conflitos na própria sociedade.
Para ele, o simples endereçamento ao Estado garantiria, para além da procura de reconhecimento de direitos, a procura também incessante de reconhecimento de desejo, localizando a própria subjetividade dos sujeitos envolvidos nas suas diferenças radicais, sem a destruição do outro.
“O Direito é hoje um dos únicos instrumentos que restaram na modernidade para a manutenção do laço social, preocupação ética comum à Psicanálise”, disse Jean-Michel Vivés para concluir que “estamos fadados a trabalhar juntos”.
O juiz Emmanuel Teófilo Furtado, titular da 10ª Vara do Trabalho de Fortaleza e coordenador da ERMAT/CE, fez a apresentação do mestre francês aos participantes do ciclo de conferências.
O psicanalista Marco Antônio Coutinho Jorge, professor adjunto da Universidade Estadual do Rio de Janeiro e tradutor de diversas obras da psicanálise lacaniana para o português, funcionou como tradutor do conferencista.
Entre os enfoques abordados no encerramento do evento, o psicanalista Marco Antônio Coutinho Jorge disse que o Direito e a Psicanálise estão presentes em todos os momentos da vida do homem. “O Direito atua diante do fato gerado pelos atos do homem e sua repercussão na sociedade. A Psicanálise procura desvendar os impulsos que antecedem aos atos para chegar à razão que deu origem aos mesmos”, finalizou o professor.