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“Tecnologia não inclusiva reflete posições dominantes”, afirma ministra Kátia Arruda

Kátia Arruda é ministra do TST
Kátia Arruda é ministra do TST

“Nossa tecnologia tão falada e querida tem sido efetivamente inclusiva para as pessoas mais vulneráveis? Os algoritmos são de fato livres ou refletem o pensamento dominante?”. A partir dessas duas indagações, lançadas aos presentes no 3º dia do  Congresso Internacional Os Impactos das Novas Tecnologias no Mundo do Trabalho, a ministra do TST Kátia Magalhães Arruda conduziu suas reflexões na palestra “São os algoritmos neutros? Análise e impacto no mundo do trabalho”, na manhã da sexta-feira (24/11). 

As respostas ela mesma forneceu: “A tecnologia até hoje não tem sido efetivamente inclusiva e tem expressado posições dominantes”. Kátia Arruda disse que a criação e o acesso à tecnologia são, em geral, dirigidos às pessoas com melhores condições financeiras e que, embora haja no País 242 milhões de celulares inteligentes para quase 220 milhões de habitantes, 75% dos jovens de classes inferiores têm acessos limitados. Como professora universitária, ela vivenciou, na pandemia de covid-19, situação em que um aluno intercalava o acompanhamento da aula, porque precisava dividir o uso do aparelho com outro irmão também estudante no mesmo horário.

A magistrada constatou que muitos dados são utilizados para consumo, propaganda e divulgação de informações infundadas e afirmou que a sociedade ainda se mostra majoritariamente machista, além de alimentar o racismo. “Ainda existe uma profunda desigualdade e não tenho certeza de que estamos no caminho para a reversão”, pontuou. Ela fez, a partir daí, uma provocação: “Os algoritmos vão cumprir um papel libertador ou ser reflexos desta sociedade?”.

Kátia Arruda lamentou que haja pouco debate crítico sobre o objeto da tecnologia, pois o que se vê é sua apresentação “sempre como sinônimo de avanço e progresso. Mas, avanço para quem?”. Ela frisou que a tecnologia é criada por alguém que investe tempo e dinheiro e escolhe limites e finalidades. “Precisamos conhecer os conceitos que estão por trás dessas criações para sabermos se nos atendem como sociedade. Prometeram que teríamos mais tempo livre, mas estamos escravizados diante de novas formas de controle. Estas formas de controle mantêm os trabalhadores permanentemente conectados”, observou.

Desembargador do TRT-7 Paulo Régis presidiu a mesa da palestra
Desembargador do TRT-7 Paulo Régis presidiu a mesa da palestra

A ministra do TST também tratou dos efeitos da automação no desemprego gerado em muitas atividades, com a exclusão de cidadãos do mercado. “Nós vamos aceitar que tratem trabalhadores como inúteis? Esse não pertencimento pode explicar muito da depressão coletiva que estamos enfrentando”, avaliou. Ela defendeu que a educação é fundamental para reverter esse processo, mas que é preciso “aguçar nosso espírito crítico, porque a tecnologia tem se mostrado continuadora e não transformadora da realidade”.

Repensar o sentido das chamadas gerações ou dimensões de direitos também foi sugerido pela ministra. “Liberdade não é um direito separado. Não é apenas liberdade de votar, mas de comer e de trabalhar. Sem um trabalho digno, se compromete o direito à própria saúde. Não queremos tecnologia como direito de uns, mas como direito da humanidade”, finalizou.

O diretor da Escola Judicial do TRT-7, desembargador Paulo Régis Machado Botelho, foi o presidente da mesa da palestra.

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