Frei Beto recebe Medalha do Mérito do Trabalho no Ceará

A Desembargadora Dulcina Palhano, presidente do Tribunal Regional do Trabalho do Ceará, saudou Frei Beto na emoção de tê-lo no TRT recebendo uma honraria que orgulha o Ceará e os cearenses, a Medalha do Mérito Alencarino do Trabalho no grau de Grande Oficial. - Suas palavras muitas vezes me tiraram da solidão, disse a Desembargadora Dulcina, falando do livro A Mosca Azul. – Em muitas passagens de seu livro, encontrei respostas, encontrei paz e justificativas para o sofrimento. Quando o senhor fala da mãe que tenta trazer o filho drogado de volta à vida, não para ela, mas para a felicidade dele próprio, é o descortinar de um sentimento que eu pensava só poder ser entendido por uma mãe. E ao escrever o senhor provou que o ser humano não tem sexo,que como Deus pode ser mãe e pai e entende o próximo como muitas vezes não entende a si mesmo, saudou a Presidente.

A proposta da comenda ao dominicano, foi feita pela Desembargadora Lais Freire, e só agora pode ser entregue, haja vista que à época o jornalista, antropólogo, filólogo e filósofo estava viajando para o exterior numa série de conferências. Desembargadora Lais Freire, discursou para o amigo: - Não falo pro homenageado, mas para o irmão. O Frei Beto tinha uma cadeira na minha casa onde passava horas e horas conversando com meu pai. Só posso saudá-lo como irmão. E entregou a comenda.

Frei Beto, agradeceu tecendo comentários sobre a leitura da desembargadora Dulcina Palhano, de seu livro A mosca Azul: - É especial para mim a alegria de receber esta comenda fora das comemorações oficiais e com toda a gente. Não por vaidade, mas porque podemos falar mais a vontade da mosca azul que pica as pessoas que perdem seu pedestal, se apegam aos cargos, vivem da ilusão do poder e eu, quando fui agraciado estava no poder, mas agora que não sou poder tem um gosto melhor, muito melhor este encontro, disse.

Esta comenda me é muito cara. Primeiro pela ligação familiar. Isso me liga mais ainda ao Ceará onde a família Rossas Freire me fez filho e irmão. É minha casa aqui e eu nunca esqueço de todos eles.Segundo, recebo a comenda de um tribunal do trabalho, um dos raros tribunais em que os pequenos têm vez e eu, sou filho de um Juiz e tantas vezes vi a angústia de meu pai, que morreu em 2002, às voltas com decisões difíceis. É muito importante que a Justiça se faça e se faça para os pequenos. Além disso, recebo esta honraria quando meu filme, que retrata a vida do Frei Tito, é lançado neste mesmo dia aqui no Ceará. É um filme onde mostra a resistência dos dominicanos à ditadura, salientou.

- Aquele povo tinha a utopia nas veias, cheirava a sonhos e assim se formou uma geração que respira democracia, a democracia que respiramos hoje. E o Frei Tito, herói do filme, é um símbolo de todos os torturados pela ditadura. Ele, morto aos 28 anos, dizia sempre que era preferível morrer a perder a vida. Antes que eu me desintegre, dizia, é preciso fazer a travessia. Na Igreja antiga, os Santos eram mártires. Nós achamos que Tito é um santo brasileiro, que morreu pelo martírio. A igreja um dia há de reconhecer isso. Então, esta comenda mais que orgulho, me traz responsabilidade. Essas insígnias serão marcas sacramentais para a defesa dos mais pobres, dos excluídos, dos trabalhadores. Não sei se vou viver para colher os frutos, mas faço questão de morrer semente, encerrou. A solenidade, no gabinete da Presidência do TRT do Ceará foi prestigiada pelos desembargadores, convidados e servidores do Regional.