Hiperconexão ao trabalho compromete vida pessoal e favorece adoecimentos
- Página atualizada em 23/04/2024
“O trabalho nos transforma e, por ele, transformamos o mundo ao nosso redor. Mas ele tem de nos dignificar. Quando não nos dignifica, há algo errado”. A afirmativa partiu do gestor regional do Programa Trabalho Seguro (PTS), juiz do Trabalho Raimundo Dias de Oliveira Neto, ao abrir, na manhã do último sábado (20/4), na sede da Escola Sesi-Senai, em Juazeiro do Norte, o evento Abril Verde, promovido pelo PTS, desenvolvido pela Justiça do Trabalho com o apoio das entidades que fazem parte do Grupo de Trabalho Interinstitucional do PTS (Getrin7), em memória das vítimas de acidentes de trabalho e de doenças ocupacionais.
O magistrado apresentou as boas vindas em nome da também gestora do PTS, desembargadora Regina Gláucia Cavalcante Nepomuceno, e enfatizou que a prevenção de acidentes de trabalho e adoecimento ocupacional é bandeira nobre e de toda sociedade. Raimundo Neto frisou que quando acidente e doença ocupacional são apresentados ao julgador, por meio do processo, “o problema já ocorreu”, mas que, por meio do PTS, a Justiça do Trabalho atua na prevenção.
Ao proferir, na sequência, a palestra de abertura, o analista judiciário do Tribunal Regional do Trabalho da 7ª Região (TRT-7), Valdélio Muniz, apresentou os dados mais recentes do Anuário Estatístico de Acidentes de Trabalho (AEAT), do Ministério da Previdência Social, fazendo análise comparativa dos números de acidentes de trabalho (incluindo os de trajeto e de doenças ocupacionais) e de óbitos deles decorrentes relativamente aos últimos três anos divulgados (2020 a 2022), quando se observou crescimento contínuo nas ocorrências notificadas. Ele destacou que o avanço tecnológico na atual era digital provocou um paradoxo no mundo do trabalho: equipamentos e sistemas adotados por empresas e seus empregados evoluem, mas em vez de reduzir a jornada de trabalho, a portabilidade do serviço, que acompanha trabalhadores fora dos seus expedientes por meio de notebooks e celulares (mensagens de whatsapp, ligações, aplicativos e e-mails com acesso por dados móveis e pela internet), favorece a hiperconexão laboral, com o comprometimento das demais dimensões da vida humana (familiar, social, pessoal, religiosa etc) e o adoecimento do trabalhador.
Com base nos estudos realizados para a dissertação do seu mestrado em Direito Privado, recém-concluído, o servidor destacou que o “novo perfil” de trabalhador, permanentemente conectado e proativo, leva a uma cobrança externa (e também internalizada) por alta performance (obsessão produtiva) que provoca frustração (quando não atendido), estresse e esgotamento físico e mental (síndrome de Burnout). Segundo ele, o controle de atividades (monitoramento de desempenho) por softwares, quando mal utilizado, pode gerar teleassédio moral (telepressão ou assédio moral virtual) e se manifestar com falta de concentração, insônia, queda de cabelo e unha, dores musculares, irritabilidade e depressão.
O advogado Antônio Ambrósio de Oliveira falou sobre o papel dos sindicatos na prevenção de acidentes de trabalho. A fonoaudióloga Priscila Albano apresentou o trabalho do Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest). O professor José Teles dos Santos destacou o papel das Comissões Internas de Prevenção de Acidente e Assédio (CIPAs) e a técnica em Segurança do Trabalho Francisca Adriana Silva Lima, diretora regional do Sintest Cariri, ressaltou a importância da presença e valorização destes técnicos para a melhoria dos ambientes de trabalho.